Você está pronta para liberar o perdão? - Capins Da Terra

Você está pronta para liberar o perdão?

Se a resposta é não, eu te entendo e é sobre isso que quero falar com você hoje.

Hoje 13/08/23, dia dos pais e a data que eu consegui juntar muitos sentimentos e rascunhos nesse texto.

Antes de começar quero deixar registrado que aqui, assim como nosso trabalho em geral, não é pautado em dizer à vocês o que é certo ou errado e sim trazer possibilidades e vivências à partir das nossas próprias ou das colunistas convidadas, para que vocês possam conhecer, se inspirar, tirar insights e reflexões afim de que dentro de suas próprias realidades e narrativas encontrem caminhos para um melhor viver.

Vamos lá?

Bem, hoje é um dia bem difícil, afinal são mais de 5 milhões de pessoas sem um pai no registro, sendo muitas outras que até possuem um nome ali escrito no papel mas que não passa disso, um nome no papel.

Tem aquelas outras que tiveram ou tem um pai presente por um prazo determinado de validade, seja aquele pai de final de semana, aquele pai de Instagram (risos de desespero), aquele pai que aparece só em datas comemorativas, ou o que "do nada" abandona... Até esteve presente por um determinado período, mas por questões variadas decidiu tomar conta de outras coisas que lhe eram de alguma forma mais importantes que a paternidade.... (risos de ironia).

Se você acompanha nosso trabalho desde o começo, sabe que essa data sempre passou batida, ou acompanhada de algum textão para minha mãe que há quase 20 anos seguiu também sendo pai e/ou algum outro textão carregado de mágoas para todos os abandonos parentais, mas esse ano é diferente... eu consegui não só liberar o perdão, como falar publicamente sobre isso, afinal é uma fragilidade pessoal.

Dentre todos esses exemplos de pais que citei, minha história se assemelha muito com o último exemplo, mas também se assemelha com as crianças que não tiveram um pai no seu registro de nascimento. Se você não sabe, sou filha adotiva e no meu registro de nascimento também não há um pai. Ou seja, já começo nessa longa estrada da vida com dois abandonos na conta.

Falar sobre abandono caminha por águas profundas e delicadas, lidar com isso de frente não foi uma tarefa fácil... Pois além de eu ser cria da geração “terapia é pra gente louca” e “tá com alguma questão emocional, vai trabalhar/estudar que passa”, foi meio que automático dar outros nomes e ir colocando outras demandas à frente, não só porque eu não tinha outra alternativa senão seguir em frente, mas também enquanto mais velha, pra me dar a desculpa de “tô muito ocupada pra isso agora” ou pra me trazer a falsa sensação de superação, ao fazer ali, à unhas e dentes, algum setor da minha vida “funcionar”, independente desses machucados que permaneciam abertos....

E não tem jeito né, uma hora feriadas não curadas vão dar b.o....

Até 2004, ano em que meu pai saiu de casa de uma forma completamente inesperada e envolto em diversas problemáticas, eu não tinha noção do quanto aqueles dois abandonos na minha primeira infância poderiam recair como uma avalanche diante do meu emocional completamente frágil. Eu quebrei.... Alguém sabia? Em totalidade não, porque o abandono, às magoas, os rancores o “continue a nadar” fizeram com que eu não conseguisse de forma saudável pautar muitos relacionamentos onde esse diálogo fosse honesto, a ferida já estava infeccionando outras áreas da minha vida e mesmo assim eu pensava... isso uma hora passa, como se o tempo tivesse uma varinha mágica e no dia X, na hora Y isso tudo fosse simplesmente desaparecer.

Hoje eu consigo de forma consciente não culpar meu pai e minha mãe por isso..., mas no início da minha vida adulta era só o que eu fazia, e isso aumentava ainda mais a bagagem de coisas ruins que continuava arrastando pela e para minha vida. Óbvio que muita coisa deu errado, não só pelo fluxo natural das coisas, mas como reflexo das minhas escolhas malfeitas tento como base tudo isso que eu citei anteriormente.

Num período de quase 10 anos eu lidei com muita coisa pesada de forma silenciosa e implodindo de tempos em tempos... quando eu comecei a falar sobre pensamentos $ui_c*idas que tive a possibilidade de acessar profissionais ligados à saúde mental... nesse mesmo tempo comecei a me interessar pelo esporte, ouvi pela primeira vez sobre o vegetarianismo e as medicinas alternativas... Foi aí que eu comecei o caminho de subida, ou melhor, de retorno à mim mesma.

Em 2016 eu comecei a entender sobre autorresponsabilidade e nisso, sentia muita vontade não só de ficar em paz com meu pai, mas com o meu passado... entendi que não haveria outra forma de “ajeitar” algumas áreas da minha vida se eu não revisitasse essas feridas que mesmo não infeccionadas, ainda sim permaneciam abertas. É, a vida não tem varinha mágica e não é o tempo que cura nada... é a gente fazendo os trabalhos mesmo, então bora.

Comecei os trabalhos, parei os trabalhos, fui para a terapia, voltei a trabalhar... Vieram colapsos, crises de ansiedade e aquela parte nada bonita do autoconhecimento onde você se reconhece em lugares nada, nada agradáveis... Pandemia, botei o trabalho à frente de tudo e de todos novamente... um distúrbio alimentar se desenvolveu, vieram outras crises de ansiedade para a conta, sofri um acidente de bicicleta, foi quando veio o Burnout. Alguém sabia...? Dessa vez a única pessoa que estava mergulhada nesse mar de caos comigo era meu companheiro, pois ainda tinha grande dificuldade de estabelecer relações em que essa “Flávia problemática” que eu acreditava ser, pudesse simplesmente surgir a qualquer gatilho... Eu pensava em me preservar e me preservar também se tornou me esconder e me blindar de relacionamentos.

Em 2022 após encarar muita coisa de frente, aprender, trabalhar e principalmente ao me colocar de volta ao “topo da lista” de priorizações, comecei a ter foça para liberar essa mala pesada que eu seguia carregando, e a vida também começou a fazer suas próprias limpezas... Com esse movimento todo, começou a surgir espaço para o novo... era a hora de eu tomar novas decisões e entendi que não tinha como eu liberar o perdão sem antes me perdoar. Foi a partir daí, que eu me aceitei num lugar de recomeço, o passado já não me assustava e nem doía mais. Foquei no que eu podia fazer no agora e o “só por hoje” uma técnica que minha terapeuta me ensinou começou a ser colocada em prática diariamente. Voltei a ter condições melhores de utilizar os ciclos lunares e trânsitos astrológicos ao meu favor, assim como as ervas para cada momento.

Falando nessas ferramentas de autoconhecimento e autocuidado, tudo só não ficou muito pior do que foi nos períodos mais críticos, porque alguns rituais ainda se mantinham... Tinham temporadas melhores e piores, mas agradeço à força que vinha dos meus guias espirituais principalmente para não (me) abandonar de vez.

Esse ano, meu pai veio me visitar de surpresa no meu aniversário (dois eventos que juntos há alguns anos atrás seria a combinação perfeita pra dar ruim). Foi então que eu percebi na prática o poder de liberar o perdão... O quanto tudo que eu vinha trabalhando nesse tempo fez completo sentido ao sentir apenas o amor nu e cru, a felicidade, a presença e principalmente a harmonia comigo mesma e com tudo ao meu redor.

Contei toda essa história para contextualizar para vocês, filhos, filhas, filhes que tem alguma pendência emocional com seus pais... mágoa, rancor, para não desistirem de trabalhar em liberar isso da vida de vocês, porque o maior beneficiado serão vocês mesmas(os,es).

Perdoar não significa necessariamente se reconectar com a pessoa que o feriu, mas sim se liberar de toda carga negativa que você ainda arrasta com você e que te impede de acessar novas possibilidades. Essas energias ruins podem acabar influenciando ou sendo base para tomada de más decisões e seguir atraindo situações caóticas até você aprender a lição... Porque a história se repete até que a gente aprenda... Imagina uma vida inteira nisso... Eu não desejo isso para você.

A vida é um sopro e embora muitas vezes, por estarmos justamente mergulhados nesse ciclo de repetição, não conseguimos visualizar todas as bençãos que podemos alcançar, tudo que podemos desenvolver de positivo com a nossa vida e trabalho....

Volto a dizer, desejo que você não desista do processo e se liberte... Pois ao não liberar o perdão o maior prisioneiro se torna você.

 

Ao meu pai: te amo, obrigada pela oportunidade que você me deu de viver ao me escolher. Obrigada pela oportunidade de me desenvolver a partir da nossa relação. Sou grata à possibilidade de recomeço que estamos tendo e isso é valioso de mais.

 

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4 comentários

Parabéns! Pela iniciativa de escrever aqui algo tão pessoal. É muito libertador quando conseguimos nos perdoar e o nosso próximo. Realmente não é uma tarefa fácil. Para mim tudo isso é construído com trabalho de formiguinha e aos poucos com persistência vamos nos curando. Grata! Beijos.

Edna Doria

Parabéns! Pela iniciativa de escrever aqui algo tão pessoal. É muito libertador quando conseguimos nos perdoar e o nosso próximo. Realmente não é uma tarefa fácil. Para mim tudo isso é construído com trabalho de formiguinha e aos poucos com persistência vamos nos curando. Grata! Beijos.

Edna Doria

Parabéns! Pela iniciativa de escrever aqui algo tão pessoal. É muito libertador quando conseguimos nos perdoar e o nosso próximo. Realmente não é uma tarefa fácil. Para mim tudo isso é construído com trabalho de formiguinha e aos poucos com persistência vamos nos curando. Grata! Beijos.

Edna Doria

filha, que lindo texto…………emocionante.
saiba que voce foi, e é………… a alegria da minha vida.
um dia voce me escolheu pra ser seu pai…………..e isso nunca mudará.
apesar dos meus erros……nunca deixei de ser seu pai……nunca deixei de te amar.

ROSENVALD FLAVIO BARBOSA

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